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Crônicas, Contos, Mensagens, Piadas, etc.

Expressões e como são transportadas?

Roberto Cunha Jr.

      Quando ainda criança, eu e meus irmãos nas férias, íamos para Fortaleza passar todo o mês de janeiro. Acho que era um momento de férias não só para nós como também para nosso genitor e educador pai, que jovem divorciado poderia cair na farra sem a preocupação com a hora que deveria chegar em casa e os seus afazeres domésticos. Mas faço este relato para transmitir o que passava em nossos corações, meu e dos meus irmãos. Era o fato de “andar de avião” que na época o vôo com escalas para nós era sinônimo de mais tempo dentro daquele colosso, ou seja, faríamos mais decolagens e aterrissagens. Hilário pensar nisso hoje quando quase entro em surto... quando não consigo vôo direto sem as malditas escalas e conexões.

      Ao analisar os sentimentos e objetivos da época com o que acontece hoje, deparei-me com um fato interessante, algo que nunca tinha percebido. Acho que devido à inocência da infância são as expressões das pessoas quando dá utilização de determinados meios de transportes como Avião, Automóvel, ônibus e até o mais seguro de todos “falam as estatísticas” o elevador.

      Esclareço antes que toda regra tem sua exceção. Sei que com a correria do dia a dia esquecemos de nos ater aos detalhes ou acontecimentos valiosos da nossa vida. Percebamos a diferença na fisionomia dos usuários quando chegam por exemplo de uma ponte aérea Rio/ São Paulo que esta por sua vez sou adepto corriqueiramente ou Recife/ Natal, podemos dizer que transmitem um ar de simplicidade ou até um cheiro do cotidiano. Claro que no primeiro exemplo ainda temperado com o disparate do labor excessivo não que não trabalhamos com a mesma intensidade no amado nordeste vamos e convenhamos buscamos viver melhor. Agora quando este mesmo passageiro chega seja de onde for, mas em um vôo internacional com direito a portão diferenciado e sacolas de duty-free tem todo um preparo antes de sair da sala de desembarque, a arrumação das malas e claro a colocação da sacola bem visível do Duty-Free mostrando assim que realmente “olhem estou chegando da lua ou de marte de algum lugar que vocês meros mortais do Saguão nunca conseguirão chegar. Fui exagerado, mas é verdade. Ainda neste mesmo pensamento, um outro momento que tem uma certa semelhança está neste mesmo extraterreno, podendo chamar assim por transitar hora no mundo real outrora no mundo da fantasia. Percebam ao aguardarem os seus veículos do serviço de manobristas pelos quais os clientes que chegam nos seus bólidos tem o mesmo ar, olham para todos os lados e pensam: eu sou o Rei do Mundo!

      Para esta sociedade, realmente não somos rotulados e sim nos rotulamos. Devemos buscar o nosso reinado utilizando o maior meio de transporte que o homem já inventou, a escrita, pois com ela podemos viajar por galáxias sem escalas ou conexões.



Recife, 17 de junho 2010.

*Roberto Cunha Jr. é empresário.




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Enviado pela artista plástica Denir de Melo, que mora na Suíça, para nossa reflexão e boas risadas:


Dançarino de boate gay



A professora pergunta na sala de aula:

- Pedrinho qual a profissão de seu pai?

-Advogado, professora.

- E a do seu pai, Marianinha?

- Engenheiro.

- E o seu, Aninha?

- Ele é médico

-E o seu pai,

Joãozinho, o que faz?

-Ele... Ele é dançarino numa boate gay!

- Como assim? (pergunta a professora, surpresa)

-Fessora, ele dança na boate vestido de mulher, com uma tanguinha

minúscula de lantejoulas ; os homens passam a mão nele e põem dinheiro no

elástico da tanguinha e depois saem para fazer programa com ele.

A professora rapidamente

dispensou toda a classe, menos Joãozinho

Ela caminha até o garoto e novamente pergunta:

- Menino, o seu pai realmente faz isso?

- Não, fessora. Agora que a sala tá vazia, eu posso falar :

- Ele é Deputado Federal..... Mas dá uma vergonha falar isso na frente dos outros !!!*




*Vote e não esqueça:"O Congresso Nacional é um local que:se gradear vira zoológico, se murar vira presídio, se colocar uma lona em cima vira circo, se colocar lanternas vermelhas vira prostíbulo e se der descarga não sobra ninguém."


**Reflita bem antes de eleger esses calhordas que pouco ou nada fazem pelo coletivo. Essas figuras já conhecidas que sempre dão as caras em ano eleitoral. Não se deixe enganar por seus discursos falidos. Pense antes de votar. Valorize seu voto!!!





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Cinco histórias desse negócio de escrever anúncios




Marcius Cortez



     A primeira história poderia se chamar “batendo um bolão”. Eu conto como foi. No famoso ano de 1968, o empresário Geraldo Alonso, dono da Norton Publicidade, querendo dar uma virada no seu negócio, contratou a peso de ouro uma equipe que reunia os melhores redatores e diretores de arte de S.Paulo. Isso resultou no anúncio célebre onde vemos Helga Miethke, Neil Ferreira, Jarbas José de Souza, José Fontoura da Costa e Carlos Wagner Gomes de Morais armados de réguas T, esquadros, pinceis e máquinas de escrever ocupando uma página dupla com a seguinte chamada: Os Subversivos. Eu tive a sorte de também participar dessa subversão. Logo de cara, ganhei o prêmio da melhor campanha de anúncios para jornais com menos de 60 cm. O cliente era Fulgor, fabricante de panelas e de utensílios domésticos. Lembro de um anúncio pequenino para o Dia das Mães com a foto da frigideira Fulgor e o título: Um presente para você pôr no fogo. Porém, o meu maior orgulho foi ter introduzido na Norton do Dr.Geraldo Alonso, o futebol durante o expediente. Por volta das cinco horas da tarde, virou lei: a gente arrastava as mesas, preparava uma bola de papel no capricho, um de nós ficava de goleiro no vão da porta e Fontoura, Jarbas, Neil, Wagner, Kélio e eu praticávamos o ludopédio enquanto a agência fervia. Por diversas vezes, a nossa terapia foi proibida: não faltaram esporros em forma de memorandos nem telefonemas ameaçadores. Certa tarde, Geraldão “furou” a bola e gritou feito um louco, mas bastou ele virar as costas para a redonda tornar a rolar. Fontoura era o Ademir da Guia; Wagner, cegueta, era o Tostão; Neil, Pedro Rocha; Kélio, Mussula; eu era o Leivinha e Jarbas, ruim das pernas, era o Paraná, um ponta esquerda grosso que atuou no São Paulo. Considero que esse foi um dos meus melhores trabalhos no advertising. Uma justa homenagem a um tempo que não volta mais. Um tempo em que a gente mandava nos patrões. Só depois, muitas luas depois, é que eles inverteram o jogo. E aí ficou chato.



      O frango prescreveu

      Um dos meus golaços como publicituto foi o frango da Sadia. No fim do ano de 1970 e comecinho de 71, a Sadia lançou o primeiro frango defumado do mercado. Toninho Gonçalves e eu criamos a campanha. Toninho desenhou o frango e colocou um capacete na cabeça do bicho porque a gente queria tirar uma onda com a cara do Emerson Fittipaldi. Feito isso, sapequei o título: O frango mais veloz do mundo. A campanha foi um sucesso tão grande que a agência recomendou que a Sadia adotasse o frango como símbolo e o dito cujo continua em cartaz até hoje. Meu ex-cunhado, o Procurador da República, Morse Lyra, certa vez, disse-me: Fred, procure um advogado, veja se a lei dos direitos autorais pode beneficiar vocês. Após essa sentença do Dr. Morse, Toninho e eu tiramos cópias das provas do crime e submetemos o assunto a uma banca de juristas. Fiasco total. O veredicto dos especialistas foi o seguinte: o frango prescreveu. Olhei pela janela e vi aquele montão de notas com asinhas, voando, voando e sumindo por trás do Morro do Careca.


      A moça, o pai da aviação e o pau no cólera

      Por falar em dinheiro, tive a oportunidade de fazer um importante anúncio para o banco Bradesco: o anúncio da inauguração do seu escritório em Nova Iorque. Aqui, no Brasil, esse banco vinha veiculando uma campanha de massa dizendo para os seus clientes, em caso de dúvida, falar com a moça e, de fato, de norte a sul do país, nas agências do Bradesco havia uma moça à disposição do consumidor. Então ficou fácil. Escolhemos uma bela foto da Estátua da Liberdade e criamos o título: Abra uma conta no Bradesco. Fale com a moça.

      Tem também aquele que fiz quando passei por uma agência de pequeno porte e na ânsia de faturar, a gente ficava bolando anúncios de oportunidade. Então inventamos um para o Dia do Aviador. Pegamos a cara de Santos Dumont, aquela mesma imagem da nota de dez cruzeiros e escrevemos o seguinte: Hoje é dia de tirar o chapéu para um homem que nunca tirou o dele. Pura brincadeira, mas graças a esse anúncio, um figurão da publicidade me ligou oferecendo uma bolada pelo meu passe.

      Destaque e grande bafafá ocorreu por ocasião da campanha de prevenção ao cólera para a Prefeitura Municipal de São Paulo na gestão de Luiza Erundina. A data da veiculação da campanha iria coincidir com a agitação que tomava conta do país mobilizado a favor do impeachment de Collor, então foi tiro e queda: conclamamos a população nos cartazes de rua e nos comerciais de tevê para ela dar um pau no cólera. Dia seguinte da publicação do primeiro anúncio, a repercussão foi intensa: matéria de capa no Estadão, com entrevista, foto e ficha técnica.

      Sadismo

     Vou falar de um texto que me deu fama, dinheiro, leão em Cannes, mulheres e rock’n roll. O produto era o depilador da Walita. O comercial apresentava Raul Cortez no papel de Marquês de Sade e Elke Maravilha como Josephine, uma das suas amantes. O nobre marquês protestava contra a invenção desse depilador porque ele acabava com o sofrimento da mulherada na hora de depilar pernas e axilas. Josephine, por exemplo, encantara-se com a maciez do corte daquela maquininha. Funde para o packshot, depois volta para o Marquês que com lágrimas escorrendo dos olhos, choraminga: Nunca pensei que a Walita fosse capaz de tanto sadismo comigo!

     Pirulito

     Deixei por último o anúncio que eu gostaria de ter escrito. Seu autor foi o Joca, um dos caras mais geniais que conheci na propaganda. Amigo do Adoniran Barbosa, que o homenageou em “Saudosa Maloca”, o paulistano Joaquim Gustavo Pereira Leite, esse era o seu nome completo, deixou a sua marca naquele layout que vi na sua sala, um layout no formato saia-e-blusa, em cima a foto do produto e embaixo, o bloco de texto e a chamada, que era a seguinte: Não é tão bom saber que num mundo louco como esse ainda tem gente preocupada em fazer pirulito?

     Joca morreu em Belo Horizonte para onde se mudara com a mulher, os filhos biológicos e os filhos que adotou ao longo dos anos, uns três ou quatro. A essa hora, depois de um papinho rápido com São Pedro, ele, Adoniran e o Madureira estão procurando uma parede a fim de se encostar para não cair de tanto dar risadas das últimas notícias do planeta Terra.



*Marcius Cortez é escritor. Autor de O Golpe na Alma e Barbaridades Críticas.



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CÓPULA DOS NAMORADOS





Roberto Cunha Jr.


     No clima que estamos vivendo, não sabemos qual o norte que iremos tomar, ou melhor o sul, da África, onde traduz relembrando a política do pão e circo. Todos voltados para uma celebração que o romantismo ficou para trás com jogadas feitas com amor onde o dinheiro era algo secundário, usado apenas para comprar alguns regalos, como o caso típico do rádio de Garrincha na Suécia.

    Quando traçamos um paralelo utilizando o romantismo como ingrediente, percebemos que tudo realmente está mudando. Esse mesmo passado que tomo conhecimento nas conversar saudosas com a geração gris do meu pai e seus amigos, relatam que realmente imperava nesta data um “amasso” dentro do carro utilizando até um banquinho apelidado de “Chega Mais” ou no simples banco de ferro branco do jardim da casa dela levando uma caixa de “chocolate peixinho”.

     “Nesta era onde vivemos um mundo capitalista mesmo sabendo que o primeiro dia dos namorados foi comemorado no “Brasil em 1953, organizado por comerciantes paulistas. A data de 12 de junho foi escolhida por ser a véspera do dia da morte de Santo Antonio, tradicional casamenteiro e protetor dos apaixonados, para quem as moças acendem velas pedindo por um namorado. Curiosamente, antes de se instalar esta tradição, Santo Antônio era o santo dos objetos perdidos. Aliás, não se pode pensar em objeto mais perdido do que um namorado de quem nem se conhece ainda o rosto... O dia foi criado para fornecer um pretexto para que as pessoas amadas sejam presenteadas e assim se demonstre amor por elas” mesmo assim tinha o certo romantismo.


     Podemos chamar com a plaga da copa que viveremos a “Cópula dos namorados” no sábado teremos muitos casais com a grande dúvida: onde e qual gol será comemorado. Está tudo pronto para a grande festa, restaurantes com menu especial, motel com passeio de helicóptero dentre outros serviços escalafobéticos fazendo esquecer o simples ato de celebrar o amor.


*Roberto Cunha Jr. é administrador.


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No SUBSTANTIVO PLURAL http://www.substantivoplural.com.br/jose-mindlin-para-as-novas-geracoes-iletradas/#more-14873




2 de março de 2010

José Mindlin para as novas gerações iletradas



Por Fernando Monteiro

No momento em que tantos estão a escrever (?) tantas “generalidades” sobre o realmente admirável José Mindlin, eu gostaria de relatar uma historinha (real) a respeito de um livro.

Um dos mais raros livros que já passaram pela mesa do meu amigo Stefan Geyerhahn, sebista que… Não, esse nome precisa, antes de mais nada, ser trocado pelo de “antiquário de livros”, que melhor se adapta ao perfil de grande livreiro especialista em obras raras e antigas (título dignamente conquistado por Geyerhahn, um dos donos da Livraria Kosmos – “sebo” que ajudou a civilizar o Brasil).

Muito bem. Vamos à historinha: estava eu, numa tarde paulista, em conversa com o Stefan na sua sala da Avenida São Luís, quando lhe anunciam que um estrangeiro, um europeu, de posse de uma obra que parece realmente rara (na avaliação inicial que era feita lá no salão da livraria, antes de alguma oferta vir para o exame especializado de Geyerhahn), tinha vindo oferecer uma obra que parecia “interessante”…

Diante do caso, eu me propus a sair, porém Stefan pediu que eu ficasse, com a generosa alegação de que, quem sabe, pudesse eu ajudá-lo a analisar a obra (pobre de mim!, um simples colecionador de pequenas raridades)…

O homem entra. É taciturno e de poucas palavras – num inglês precário. Stefan domina várias línguas, e logo estão se entendendo no francês que, um dia, já foi a língua culta do mundo.

A certa altura, o meu amigo sócio da Kosmos pede permissão ao estranho, e me passa o livro – um pequeno opúsculo do século XVII – que eu pego com infinitos cuidados, apesar de estar razoavelmente bem conservado. Sinceramente, não me lembro mais do título rebuscado (à maneira seiscentista) da raridade bibliográfica, mas conservo a lembrança da explicação do livreiro, que me esclareceu:

- “É a obra de um viajante no Brasil de meados dos 1600. Uma edição sueca, da qual eu só tinha visto, até agora, o exemplar que se encontra na Biblioteca Nacional de Estocolmo. É rara, raríssima, e esse senhor está pedindo um preço até bem razoável ( apesar de, para mim, ser um valor estratosférico, pelo que eu havia entendido da conversa deles em francês). Bem, é um livro que tem exatamente o perfil dos que interessam ao José Mindlin. Vou telefonar para ele.”

Stefan vai, e liga para o bibliófilo. É imediatamente atendido. E explica do que se trata.

Ouvindo o telefonema, percebo que Mindlin se surpreendeu, do outro lado do fio, com a aparição de tal obra em oferta no mercado, e, mais ainda, com o preço que (segundo, mais tarde, me explicou o Stefan), ele, Mindlin, considerou “muito barato”…

E aí? Você pára a leitura deste “post”, neste momento, e aposta: o que aconteceu? O livro era da área de absoluto interesse do velho Mindlin. Dizia respeito ao Brasil dos 1600, estava bem conservado e era “raro, raríssimo” – além de “muito barato”.

Ou, conforme Stefan Geyerhahn colocou, ao telefone com Mindlin:

“Dr. Mindlin, o senhor está sendo a primeira pessoa para a qual estou ligando, porque acho dificílimo que apareça outro exemplar desta obra sueca…”

Bem, o bibliófilo José Mindlin NÃO adquiriu o livro.

Não porque o livro não o interessasse, pelo contrário.

Nem porque não tivesse o dinheiro (piada!). Ou porque o livro estivesse em péssimas condições etc (porque Mindlin mandaria restaurá-lo de imediato, sem medir despesas) etc.

???

Resposta do enigma:

José Mindlin não comprou a raríssima obra – segundo explicou a um surpreso Stefan Geyerhahn – porque ele “jamais adquiria um livro que não pudesse ler”… E ele “não lia em sueco – infelizmente”. De onde se conclui que todos, literalmente TODOS os livros da vastíssima biblioteca do bibliófilo – por ele doada à USP - haviam sido LIDOS por Mindlin, um a um, nas muitas línguas que ele conhecia. E o sueco não estava entre elas (“infelizmente” etc etc)!

Esse foi José Mindlin – ó geração de iletrados que estão por aí. Fica o exemplo para “vosmecês”, big brothers do Oiapoque ao Chuí…



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No SUBSTANTIVO PLURAL

http://www.substantivoplural.com.br/entrevista-com-o-escritor-fernando-monteiro/#more-13337



21 de janeiro de 2010

Entrevista com o escritor Fernando Monteiro

Por Laurence Bittencourt

Na visão do mais importante crítico literário da atualidade, o americano Harold Bloom, o mundo de massas, moderno, destruiu o gosto pela alta cultural, provocando um definhamento na prática e cultivo do mundo culto. Hoje cultivamos o pastiche. É uma opinião dura, mas nem por isso totalmente inverdadeira. O escritor pernambucano, Fernando Monteiro, autor de diversos livros lançados, entre eles, romances como Aspades Ets, Etc, Cabeça no Fundo do Entulho, A múmia do rosto dourado, poemas como Memória do mar sublevado e Eu vi uma foto de Anna Akhmatova e biografias de Thomas Edward Lawrence (Lawrence da Arábia) e do faraó Akhenaton certamente que concordaria com o crítico. Nessa longa entrevista Monteiro mostra não só sua vasta cultura, como discorre sobre sua produção passada, presente (e futura), além de tecer comentários sobre a literatura feita no Brasil e no mundo. Provocado sobre suas discordâncias em relação a Ariano Suassuna e Paulo Coelho, Monteiro mostra porque não segue modismos literários muito menos baixa a guarda a patrulhamentos literários, que não tenham um crivo maior com consistência na escrita. A entrevista é um misto de erudição, inteligência e contundência crítica, e, em vários momentos de grande autocrítica. Divirtam-se e aproveitem.

Laurence Bittencourt – Monteiro uma leitura atenta de “Vi uma foto de Anna Akhmatova” transmite a idéia de que você é um dos últimos representantes de um Humanismo perdido. É correta essa análise?

Fernando Monteiro – Se o poema transmite essa idéia, certamente que ele está fazendo mais por mim do que eu mereço, Laurence. Não quero ser o moedeiro falso da modéstia empostada dos dias que correm, mas raciocino: é que a larga palavra usada na pergunta – Humanismo – se encontra inevitavelmente poluída em todos os corações & mentes (incluindo a deste escriba, é claro) da desolada época de “homens ocos” em que caímos, com o sentido de grandeza – meramente humana etc – reduzida à sombra de uma sombra vista no escuro, entre “lágrimas na chuva”. Não é mais necessário o Homem (e, em conseqüência, o Humanismo)? E a Poesia – para um não só chocado como vitimado Walter Benjamim – não será ma is possível, de fato, “depois de Auschwitz”? Seja como for, fomos longe demais no “adeus a uma idéia” (aquele título do poema fúnebre do grande Wallace Stevens), na longa despedida a um modelo de cultura que se originou das peãs pagãs, cantadas em torno da fogueira grega de guerreiros sentados para ouvir o Poeta entre eles. Naquela época primaveril – de sangue, tempestade e alguns antecipados dias de vinhos e rosas –, cantava-se o fragor da batalha, um choque entre surdas nuvens fazendo cair uma folha amarela do outono grego sobre o branco colo de Ariadne. Onde está ela, agora? E onde ficou a visão de Beatriz, Margarida, Miracelli e Anna Akhmátova? Todas as vozes estão se reduzindo a um murmúrio – e não se ouve mais o Tordo, com o seu piar nublado pelo céu que chora nos olhos vazados de estátuas cegas por ácido. O falcão não atende mais ao falcoeiro – já denunciava Yeats, no seu sombrio poema de 1926 (“The Second Advent”). Desde então, entramos no Terceiro Milênio com a horrível sensação de que tudo está mais morto assim (vivo?), do que se o fogo já houvesse consumido o que a água poupou, no antigo dilúvio transformado numa espécie de filme-catástrofe (mal) dirigido por um James-Cameron-qualquer da vida. Enfim, “vôte!”, como se dizia antigamente…

LB – Por outro lado você é muito ácido em suas análises sobre a produção cultural, por exemplo, feita no Brasil. Não há uma contradição entre esse humanismo poético mesmo nos romances e o Monteiro analítico?

FM – O Brasil ainda é um Projeto. Um projeto de qualquer coisa na dobra de outras dobras. E não adianta escrever, criar, “forçar” para lhe dar uma espécie de mitologia de emergência (como faz o Suassuna), nem fingir que podemos nos dar bem com algum pulo do gato a fim de “entrar na barbárie da decadência sem ter passado pelo esplendor de algum Século Quinto de Péricles de Brasília” etc. Aqui nesta Pindorama, Péricles é somente o amigo do “amigo da onça”, e não o governante ateniense que imaginou a Acrópole como uma representação do mundo ideal suspenso na piscina do espaço. O Brasil é – ainda – raso como uma piscina vazia, apesar do Aleijadinho, de Machado e de Rosa e Villa-Lobos. Porém, somos capazes de perceber o Outro como nenhum outro povo é capaz de ver no espelho, espionando pelo periscópio na bruma da nossa cultura ainda incipiente, para dizer de modo delicado. E nenhuma linguagem – que não seja a (aposentada?) dos oráculos – será agenciadora de novas realidades futuras, enquanto baixarmos a cabeça para o fantasma por trás da máscara da “pós-modernidade” (por exemplo): o Holograma no lugar onde estava o Homem.

LB – Um pouco de história pessoal. Qual tua formação, me refiro a formação escolar mesmo e quais foram os livros que te formaram como escritor?

FM – Me formei em Sociologia, aqui no velho burgo Maurício. Para nada. Estudei Cinema (em Roma, de 1969 a 1971), para entender que não adiantava absorver teorias (e, mesmo, práxis gostosamente latinas da Itália), enquanto corria o risco de deixar de ver os filmes passando nas árvores, simplesmente. E não só os bosques do cinema da natureza eram importantes. Um trem (ou a sua janela aberta) também é uma lição do cinema, apreendida naquela maravilhosa síntese de Humberto Mauro: “Cinema é cachoeira”. E é mesmo! De modo que deveriam existir universidades formando cineastas de calção de banho baixo de Paulo Afonso, perto do Ninho das Águias do velho Delmiro Gouveia, o Lou co do Jardim. Na minha época, não havia (e ainda não há) o curso que teria me servido: o de Formação de Malucos Profissionais ou de Acendedores de Lampiões Inexistentes e/ou de Ícaros com Asas pregadas nas costas com cera inderretível (?) pelo Sol de agosto etc etc. Todos os livros que me ajudaram (mesmo os ruins)? Bem, destaco os bons, os excelentes, os maravilhosos “OS SETE PILARES DA SABEDORIA”, de T. E. Lawrence, e DOM QUIXOTE, de Miguel de Cervantes, TRISTRAM SHANDY, de Laurence Sterne, MADAME BOVARY, de Gustave Flaubert, MOBY DICK, de Herman Melville, OS IRMÃOS KARAMAZOV, de Fiodor Dostoievsky, JUDAS, O OBSCURO, de Thomas Hardy, O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, de Emily Brontë, O CORAÇÃO DAS TREVAS, de Joseph Conrad, O GRANDE GATSBY, de F. Scott Fitzgerald, CONVERSAÇÃO NA SICÍLIA (ou “Gente da Sicília”), de Elio Vittorini, GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de Guimarães Rosa, DOM CASMURRO, de Mac hado de Assis, DEBAIXO DO VULCÃO, de Malcolm Lowry, A VERDADEIRA VIDA DE SEBASTIAN KNIGTH, de Vladimir Nabokov, OS LOUREIROS ESTÃO CORTADOS, de Edouard Dujardin, a poesia de Leopardi, de Ungaretti, de Montale, de Pavese, do já citado Stevens e do ainda não citado Seferis e seus irmãos de ruínas (Palamas, Elytis, Ritsos, Kazantzakis), além dos poetas árabes de Andaluzia – Sevilha na minha alma não é mesma na “alma de porteiro” de Cabral – e seus sucessores, numa linhagem que vem bater em João – poeta que nunca me emocionou como sempre me emocionou Jorge de Lima, o alagoano que considero o maior poeta da língua portuguesa, ao lado de Luis de Camões (não admiro Fernando Pessoa, meu xará de alma pequena). E também devo a livros de arqueologia e história (destaco o monumental “A CIDADE ANTIGA”, de Fustel de Coulanges), e a romances policiais e até bons westerns – nunca-lidos no Brasil! – que resultaram em algumas obras-primas (de Ford, Mann, Ha wks, Delmer Daves, Dmytryck e outros), todos desprezados pelo armorialismo chato como uma sessão no dentista para tratamento de canal. Em tempo: a minha geração era tão reprimida que se excitava com a bula do “Regulador Gesteira” – que horror -, e havia filmes preto-e-branco cheios de abismos na fotografia, como se pode (re)ver no magnífico Vagas Estrelas da Ursa, cujo título Luchino Visconti foi buscar num poema de Leopardi. E ainda devo muito aos livros de…

LB – Seguindo essa mesma linha: como teve inicio sua carreira de escritor? Qual o primeiro livro lançado? Foi difícil?

FM – Comecei como poeta. Meu primeiro livro publicado foi MEMÓRIA DO MAR SUBLEVADO, um poema longo em três partes. Sempre gostei de poemas longos. Não tive o menor problema para lançá-lo: o livro saiu pela Editora Universitária (da Universidade Federal de Pernambuco), como separata da revista “Estudos Universitários”, em 1973. O ano é para se destacar, nesta resposta, porque foi antes da atual idade “petista” nas universidades, quando o partido saído do “coito maldito” (intelectuais X operários) tomou conta, por exemplo, das editoras universitárias – que passaram a publicar somente os textos medíocres do corporativismo assumido etc. Entenda-se: quando o meu primeiro livro foi publicado pela EU (a editora), eu não era nem do corpo discente nem docente da UFPE. Tinha 23 anos, e vivia – como meu pai dizia – “com a cabeça nas nuvens”. Meu único título era o de poeta jovem, sem eira nem beira. Meu pai tinha razão, mas eu fui editado nessa era pré-petista de universidades abertas para a cultura e a vida. Hoje em dia, elas estão fechadas para tudo que não seja rasteiro como uma plantação de mandacurus-anões…

LB – Monteiro, há em alguns dos seus livros, uma espécie de deslocamento do nosso mundo, quase diria um certo desconforto com o nosso tempo. O seu interesse pelo mundo antigo, o Egito, por exemplo, o seu interesse por Akhenaton, a que se deve? Esse interesse pela Historia, é parte da composição literária, ou seja, ajuda na composição literária? De que forma você analisa esse dado?

FM – Acho que você acerta na mosca. Sou um estranho no ninho, um ET desambientado que não sabe tomar banho nas piscinas vazias do piscinão chamado Terra em Transe de Vera Cruz. Temos, entretanto, tudo para dar certo no século 21 (a partir da alma em branco), o que só será paradoxal para os burrinhos que nos cercam como as águas cercam as ilhas. Ficção das ficções, o Brasil ainda é uma esquina que nos espera na volta da Junqueira Aires (a avenida de Cascudo, rumo ao mar invertido do céu), enquanto aqui em Pernambuco se desce uma rampa na companhia sub-aristocrática de Gilberto Freyre, ainda. Gentes, mares, céus, ilhas. Não acho que “homem nenhum é uma ilha” ou que “és responsável por todo aquele que tu cativas” e todas as frases repetidas pelos Marcos Vilaças (e outros Vilaças da vida), em discursos de chás e Academias. Aliás, eu abomino toda e qualquer academia – exceto as de ginástica, que modestamente ensinam a prevenir barriga de chope e vícios de postura. As outras são imposturas (a começar pela ABL, infelizmente fundada por um gênio inseguro: Joaquim Maria Machado de Assis).

LB – Você já chegou a mencionar em uma de suas entrevistas que se sentia “envergonhado do artificialismo da literatura”. Ao contrário do critico de literatura americano Harold Bloom você não acha que a literatura seja uma porta para a salvação e traga em si caminhos para se adquirir sabedoria?

FM – Nada é pior do que poesia – quando não é Poesia. Portanto, nada é pior do que literatura – quando não é Literatura. Foi isso o que eu quis dizer (e pensei que havia sido claro, mas, obviamente, não o fui). Ou seja, quando a arte é exercida com o pleno domínio de intenção (em cada caso etc), servida do talento mais aprimorado possível, então ela é via de conhecimento, revelação e expansão da consciência acima de tudo. Só isso.

LB – Um traço marcante em seus livros, como por exemplo em Aspades, Cabeça no Fundo do Entulho, A múmia do rosto dourado, para ficarmos nesses, é a de uma literatura do fragmento, da não linearidade narrativa. Os franceses têm uma expressão para esse tipo de construção que eu acho interessante: bricolagem. Esse tipo de narrativa lembra de alguma forma o James Joyce de Ulisses e Finnegans Wake. Você confirma a influência de Joyce em teus escritos?

FM – Prefiro o mestre de Joyce, Edouard Dujardin. Foi esse francês esquecido quem ensinou Joyce a tentar investigar a realidade daquele modo que o talentoso irlandês transformou, em parte, numa chatice. Gosto do Joyce pré-“Ulisses” – e acho que ele não entendeu toda a lição de Dujardin (pelo menos em Os loureiros estão cortados, que é de 1888). E, sim, Joyce ainda tinha outro grave defeito: acreditava que era Joyce!

LB – O incrível em sua produção artística é vermos que você trabalha tanto a poesia, o romance quanto o teatro. Em qual delas você se sente mais confortável?

FM - Na poesia. Se eu fosse “proibido” – por Deus (o único que poderia fazê-lo) – de escrever em mais de um gênero, certamente eu faria o seguinte “negócio” com o Pai Eterno: “Senhor, me deixe continuar escrevendo poemas, que tudo estará beleza etc”. E, caso Ele não permitisse, eu seria expulso do paraíso da prosa, do teatro e do cinema, mas continuaria a escrever versos no meio do inferno da poesia.

LB – Dito de uma outra forma: em qual o gênero literário que você classifica os seus romances? Que tipo de romance você produz?

FM – Eu produzo com certeza um híbrido de ficção, documentário, delírio e biografia (incluindo a “auto”). E isso não é muito bom. Melhor é escrever como estão escrevendo alguns “novos” surgidos no mercado do livro: vieram para cortejar o espírito do tempo, fazendo a pirueta requerida, seja qual for a “muganga” do momento. (Ah, que bom ter escrito a velha palavra “muganga”! Há muito tempo não a usava – e acho, até, que a maioria já nem sabe o que ela significa. Não vou me dar ao trabalho de explicar, entretanto. Quem acompanha o evoluir da “arte-twitter” (???) sabe a quais “mugangas” freirianas eu estou me referindo…)

LB – Já que você trafega em gêneros múltiplos o que você diz sobre o conto? Já arriscou ou prefere mesmo o romance?

FM – Tenho um livro de contos – Armada América (Editora W11/Francis, São Paulo, 2003) – que ficou entre os cinco finalistas da categoria, no Prêmio Brasil/TELECOM de 2004. E estou um livro inédito de histórias curtas, para publicar neste ano. O título é Oxford Hotel e conta com 14 narrativas.

LB – Uma curiosidade: você lançou seu primeiro romance, Aspades Ets, Etc., em Portugal. Por que Portugal? Lançar livro de estréia no Brasil é mais difícil?

FM - Tive esse livro recusado por algumas editoras daqui de Pindorama, mandei para uma das maiores editoras de Portugal – a Campo das Letras – e, em menos de seis meses, estava publicado lá, pelo editor Jorge Araújo. Ele promoveu o lançamento, em dezembro de 1997, em Lisboa e no Porto, com passagens aéreas e hospedagem para mim e minha esposa em “ambas as duas” cidades (como diria o acadêmico da Academia Alagoana de Letras, Fernando Affonso Collor de Melo), e ainda ontem o Substantivo Plural estava dando notícia da presença do Aspades, ainda, nas “montras” e nos balcões portugueses (com foto e tudo, no SP). Fiquei feliz.

LB – Você acredita que todo romance tem que ser escrito com alguma função – seja ela social, moral – que não o entretenimento, ou o romance de entretenimento cabe?

FM - O romance, como toda forma de arte, deve ser utilizado (além do terreno puramente do entretenimento pueril) como meio de expressar a Realidade – seja clara ou oculta. Quero dizer, como um lampejo no inconsciente ou no – chamado – consciente de cada ser humano interessado em se comunicar, artisticamente, com outro humano. Simples assim (não posso pensar em conceituação mais simples do que essa). O resto é resto. Ou melhor, o resto é silêncio, ainda. Um silêncio ensurdecedor.

LB – Monteiro você tem se caracterizado como um dos escritores que mais tem combatido a escrita de Ariano Suassuna e Paulo Coelho. Por quê? Explica isso melhor.

FM – Paulo Coelho não é um escritor. Ele junta palavras (mal), encontrou um filão que o tornou “popular” numa época em que “encontrar um filão” é mais importante (porque mercadológico, pra começar!) do que expressar qualquer tipo de verdade rasa ou profunda. Ainda assim – ou por isso mesmo – ele não faz o mal que, por exemplo, faz um Ariano Suassuna, verdadeiro escritor e intelectual que, nas suas preocupações chauvinistas com a pátria e a cultura nacional, beira a fronteira de uma visão fascista (o que horroriza os espíritos livres). Ariano é um conservador obscurantista, que tem grandes recursos de “clown” – e eu admiro isso -, porém nunca estarei na fila da frente (nem na de trás) das suas “au las-espetáculos”, rindo das mesmas piadas que ele conta centenas, milhares de vezes, com sotaque treinado e roupa de algodãozinho esmeradamente folclórica na costura. Para quem gosta, é um penico cheio. Eu não gosto. Não gosto da encenação “sertaneja” (Ariano é tão urbano, biograficamente, verdade, quanto um Supla), nem concordo com as posições – ex-monarquistas, de apoio ao general Euler Bentes na presidência da República, contra Chico Science etc. É uma visão estreita que, na cultura, faz muito mal. E, na gestão cultural, pior ainda. Espero estar explicando minhas “diferenças” com o viés suassunesco quadernoso da Onça Malhada do Sertão, pela última vez. Todos me perguntam isso, como se Ariano devesse ser uma unanimidade, um velhinho obrigatoriamente querido e tudo o mais. Com todo respeito, discordo – e desconfio – dele e das suas tolas diatribes contra a arte contemporânea, urbana, o Rock, Bossa Nova, Tom Jobim, a Tropicália, parang olés e outras graças. E não vou deixar me intimidar pelas Juventudes Arianas (ou pelas Senhoras Fascistas da Pedra do Reino) que adoram o escritor fanhoso. Eu não “adoro”, e tenho direito a isso – como a J.A e as S.F.P.R também têm o direito de até beijar o chão que Suassuna pisa com aquelas alpercatas compradas em Taperoá, para melhor efeito geral da sua pessoa.

LB - Você compõe suas estórias a partir do real, ou literalmente você cria usando apenas a imaginação?

FM – Uso o real, a imaginação, o sonho, a topada no dedão do pé, a lembrança da cor da calcinha da primeira professora do ginásio, as “lembranças” – mesmo falsas – que nos oferece a ilusão do cinema, mais a paisagem, o concreto e os rios de águas heracliteanas, assim como os aeroportos (gosto muito de avião e de aeroporto, ao contrário de muita gente) e as cidades, visíveis e invisíveis. A vida é para ser usada. Não necessariamente para servir de base ou ponto de partida para filmes, peças ou romances (conforme julgava o idiota do Hemingway), porque não há decreto algum determinando que se plante uma árvore, se faça um filho ou se escreva um livro (nada mais ridículo do que as mui bem intencionadas frases de almanaques, nesse estilo). Além de usada , a vida não é para ficar parecida com um nenhum lençol lavado com Omo – que, aliás, não garante brancura alguma. A brancura só interessava ao Nacional-Socialismo das juventudes hitleristas.

LB – Monteiro você também escreveu biografias. Por que a escolha de Lawrence da Arábia?

FM – Thomas Edward Lawrence (1888-1935) foi um Hamlet moderno, um dos maiores talentos entre os maiores “orientalistas” ingleses da primeira metade do século XX e um dos homens mais atormentados de qualquer tempo. Escreveu uma autêntica e indiscutível obra-prima (Seven Pillars of Wisdom, publicado em 1926 – em edição particular – e em 1935, em edição pública), e viveu, talvez, a mais extraordinária aventura do século passado, no Hedjaz, entre 1916 e 1918. Dois anos de ação, pensamento e abismos. Acho que é o bastante para despertar o interesse de qualquer um, não?

LB – Você também chegou a escrever um pequeno texto sobre a figura do Faraó Egípcio Akhenaton, considerado por alguns estudiosos, Freud inclusive, como o iniciador do monoteísmo na história humana? Por que, objetivamente, o interesse por Akhenaton?

FM - Muito simples: assim como T. E. Lawrence foi uma das mais interessantes figuras do mundo moderno, em Akhenaton – o faraó também conhecido como Amenófis IV – nós temos uma das mais intrigantes figuras da Antiguidade, como líder-reformador espiritual (o primeiro monoteísta da História) e governante no período de maior brilho da longa sucessão de faraós, no Egito. Me larguei para lá, em 1983, a fim de estudar a reforma religiosa promovida por esse enigmático rei da 18ª Dinastia, e não me arrependo: o processo dessa aproximação interessa ao meu próprio espírito, ainda, e continua em curso, dentro de mim, mercê de figuras tão díspares (e afastadas no tempo) como o inspirado rei de Amarna e o desconcertante Lawre nce da Arábia (ele detestava o apelido popularizado pelo jornalista Lowell Thomas). Mas, há outros que também me interessam, e sobre os quais ainda não escrevi.

LB – Por que é tão difícil de se viver de literatura no Brasil?

FM - Eu diria que é difícil viver – de literatura ou não – na terra Brasilis. Para não parecer que fujo à pergunta, eu acrescentaria que é difícil “viver de literatura”, sim, num país como o nosso, no qual a média de leitura, por pessoa, atualmente é de um livro por ano para cada tupiniquim que somos (todos), com saudade do carnaval quinhentista no qual, num dia de sol, comemos o coitado do bispo Sardinha cozinhado em banho-maria na beira da praia dos naufrágios.

LB – Para terminar: como você vê o panorama da literatura brasileira na atualidade?

FM – O panorama? Bem, eu o vejo como o Arthur Miller via: debaixo da ponte (e aqui no Recife tem muitas)…



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No SUBSTANTIVO PLURAL

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17 de dezembro de 2009

GF, o gênio sem nenhum caráter

Por Fernando Monteiro

Ela está aqui na minha frente.

Uma brochura – amarelada pelo tempo – de 164 páginas, intitulada “O mundo que o Português criou” (assim, com “P” maiúsculo, no título em tinta vermelha).

Foi a obra que abriu as portas (?) da ditadura Salazar para o autor, um brasileiro chamado Gilberto Freyre.

A edição é a primeira, de 1940 (”Coleção Documentos Brasileiros”, Livraria José Olympio Editora), justo a que foi lida pelo “encantado” ditador Oliveira Salazar. Pois Freyre, na mais de centena e meia de páginas, tenta demonstrar de que modo o colonizador português teria sido um colonizador “diferente” e/ou “melhor” – ? – do que os demais colonizadores europeus…

Paguei alto preço pelo exemplar, num fino sebo de Porto Alegre, e não venderia o livro por dinheiro nenhum.

Porque é uma raridade bibliográfica?

Bem, de fato o exemplar não deixa de ser uma raridade, como primeira edição do volume 28 da CDB, obra brasileira dos “amores” de Salazar etc.

Porém, há mais nesse específico exemplar: há uma DEDICATÓRIA de Gilberto Freyre, que o tempo não apagou. Ela diz o seguinte, dois pontos:

“AO PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS, COM A VELHA SIMPATIA E A ADMIRAÇÃO DO GILBERTO FREYRE. RIO, 1940″

Cinco anos depois, qual um Marco Antonio tupiniquim a prantear – hipocritamente – o estudante morto (por esbirros da polícia de Vargas) Demócrito de Souza Filho, o mesmo esperto Gilberto iria se eleger Deputado Federal, apelidado de “deputado dos estudantes” etc etc.

Estou com o livro na mão, neste momento. Posso fazer cópia xerográfica da dedicatória infame, para quem quiser, pois ela é um documento, uma prova do caráter – isto é, NENHUM – do gênio Gilberto Freyre.

PS:

Por sinal, ESTE exemplar do livro-ode ao colonizador português nunca foi lido por ninguém (nem sequer pelo ditador beneficiário da dedicatória manuscrita). Suas páginas estão fechadas, ainda aguardando uma espátula que não virá, pois esse “O mundo que o Português criou” que seguiu com as “coisas de Vargas” (informou-me o livreiro-sebista gaúcho) para a sua estância no Rio Grande do Sul, permanecerá assim, lacrado e mudo como deveriam permanecer todos os intelectuais puxa-sacos de ditaduras.



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